Eu sempre cantei
Embora não tenha ainda aprendido tudo que a voz ensina, continuo a aprender.
Hoje canto melhor que uns anos passados.
Me concentro melhor. Me ouço melhor.
Já cantei muito pra ninguém.
Conheço plateias vazias e a indiferença daqueles que também são vazios e contam soberbos que vieram a terra pra isso e aquilo outro, falam e falam de sua própria obra como algo inquestionavelmente fundamental para a cultura.
O que é a cultura? para alguns, um conceito amplo de quem é multipreocupado com a própria importância neste mundo.
Eu nunca fiquei em mesa de restaurante após shows discutindo pormenores que revelam o que há de mais primitivo em toda criatura: A vaidade.
Não sei se por uma infância dura e arredia de qualquer conforto material e afetivo, me dei menos importância do que achar que sem mim a terra não gira, sabe?
Ou, se pela dura constatação da realidade finita de tudo, de todos, de qualquer coisa, que não nos leve ao sentimento de procurar o único bem que preenche todos os outros tipos de vazios humanos.
E assim, conheço também o amor e a admiração genuína de quem pela primeira vez na vida me abraça e me conta sua história doída e real.
Sem buscar aprovação de quem dita o que é ou não cultura. Pura balela.
Quero saber do sentimento silencioso e profundo no que me transforma para melhor.
Desde adolescente só queria cantar até que no deserto chovesse.
Até que eu visse no céu uma estrela.
Até que alguma coragem me tomasse.
Até que Deus me ouvisse. Ele ouviu e ouve.
Então continuarei cantando e aprendendo que é pra eu estar onde estou.
Ninguém na minha plateia chega à toa.
E à toa, nada que se faz com o coração será.
Graças a Deus!
Flávia Wenceslau
Vc é esplêndida em tudo: escritos, letras, voz, postura no palco, bom humor na medida certa, ironia refinada e muito mais