Muito mais profundo que compreender é sentir
Eu, que vim de longe, já não sinto a pressa daquele medo.
Quanto demora , dor de navalha.
Pedras, então? Não há outra dureza que se compare a andar com pés feridos.
Deixei que algum dia, um lampejo me dissesse.
O silêncio do que me calava era um rio, cujo a margem desconfortava de tudo.
Das águas que não pude, fui aridez, e só.
Não conheço algumas alegrias, eu sei.
Porém, outras, conheço bem e são minhas.
Se enraizaram na esperança que nunca se perdeu.
Cultivo-as no sentimento.
Aquele quintal marcado e tenebroso, só não assombrava mais que o lajeiro, onde eu corria em dia de chuva e ia longe de contente.
Me machucaram depois da curva, bem menina.
Era fim de tarde e eu não queria que o sol se pusesse, não sabia voltar sozinha nem onde era mais a minha casa.
Naquele dia, esqueci que eu era criança e não me lembrei mais.
Hoje, olho a vida e caminho na terra do coração.
Os passarinhos gorjeiam suas próprias histórias de asas e de vento. Me ensinaram cantar.
As cicatrizes se afinaram na pele.
Estão aqui, sem relevo.
Foi o tempo que maturou até que só restasse a inesquecível lembrança do que foi, como foi.
Muito mais profundo que compreender é sentir, quando por exemplo, um raio de sol toca a xícara na estante, cedo da manhã, atravessa a fumaça do café e, em direção ao infinito, torna sã a nossa casa, e a nossa reverência mais bonita ao presente de estar aqui e agora, pensando em Deus, rogando seu amor e presença, sempre.
Flávia Wenceslau
AGENDA
Show “Minha Música Tem História”
SÃO PAULO: 12/04
RIO DE JANEIRO: 19/04
INGRESSOS: https://linktr.ee/flaviawenceslau